O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou a aliados
frustração e abatimentos com o resultado parcial do julgamento do
mensalão, principalmente com o voto de Cármen Lúcia, Rosa Weber e Luiz
Fux.
Os dois últimos foram os únicos indicados ao Supremo Tribunal Federal pela presidente Dilma Rousseff.
Nos bastidores do partido e em setores do governo havia expectativa de
que esses ministros votassem pela absolvição dos petistas, entre eles o
ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha, que pode ser
condenado hoje por dois crimes.
Petistas também avaliavam que os três enfraqueceram a tese de que o mensalão não passou de um esquema de caixa dois eleitoral.
O diagnóstico foi feito após a sessão de anteontem, quando João Paulo
Cunha ficou a dois votos apenas da condenação por peculato (desvio de
dinheiro por funcionário público) e corrupção passiva.
Além de votarem pela condenação do réu, Cármen Lúcia, Fux e Weber foram
fundamentais contra a tese do caixa dois, dizem petistas.
A defesa de vários réus sustenta que o dinheiro que receberam do
empresário Marcos Valério Fernandes de Souza era para gastos de campanha
que não foram incluídos na contabilidade oficial. O próprio Lula, à
época, corroborou a tese do caixa dois.
Já a acusação feita pelo Ministério Público diz que o dinheiro era para compra de apoio político.
Nos bastidores, integrantes do PT acusavam os magistrados de "traição".
Mas tanto Lula quanto os petistas isentam Dilma de responsabilidade
pelos votos dados.
Ontem, Lula e ministros do governo Dilma, inclusive Ideli Salvatti
(Relações Institucionais), telefonaram a João Paulo para manifestar
solidariedade. Foram, segundo apurou a Folha, mais de 200 mensagens de
apoio.
Apesar disso, o ex-presidente avisou a interlocutores que atuará para
que ele retire sua candidatura à Prefeitura de Osasco caso seja
condenado hoje pelo Supremo.
Aos amigos próximos, João Paulo não descarta a alternativa da renúncia.
No partido, o temor é que a insistência dele em concorrer ponha em risco
o desempenho da sigla.
A depender do resultado, o comando do PT pode ser recrutado, a pedido de
Lula, para convencê-lo, sob pena de ser responsabilizado por uma
derrota para o PSDB.
João Paulo é acusado de receber R$ 50 mil para beneficiar agências de
Valério em contratos com a Câmara dos Deputados quando ocupou a
presidência da Casa.
Até agora, seis dos 11 ministros do STF já expuseram seus votos, quatro
pela condenação e dois pela absolvição. Ontem, mesmo dizendo-se
decepcionado com o curso do julgamento, João Paulo ainda mantinha
esperança de obter pelo menos mais dois votos favoráveis.
Isso porque advogados veem possibilidade de pedir novo julgamento caso
haja a condenação com pelo menos quatro votos pela absolvição.
"Ele está se sentindo injustiçado", disse o coordenador de comunicação
da campanha, Gelso de Lima. Segundo ele, o partido testará em pesquisa o
efeito na candidatura de eventual condenação.
"A única coisa que posso garantir é que João Paulo está acompanhando e
vai se manifestar após o julgamento", disse o advogado Alberto Toron,
com quem o réu se reuniu ontem.
UOL
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